À conversa com Fátima Melo

À conversa com Fátima Melo

À conversa com...



Fátima Melo, atleta minhota, conterrânea do nosso mentor Carlos Sá, praticante de ciclismo durante nove meses do ano, coloca a bicicleta a "descansar" no Outono e ganha praticamente todas as provas de Trail e corrida de estrada até voltar a competir no ciclismo.

É detentora do recorde da Gerês Extreme Marathon está hoje à conversa com a Carlos Sá Nature Events.


CSNE: Olá Fátima. Fala-nos um pouco de ti. Há quanto tempo praticas desporto e que desportos praticas? O que significa para ti a prática desportiva? 


Fátima Melo: Dou muito valor à liberdade e sou também uma amante da Natureza.

Tudo se iniciou há 10 anos atrás. Comecei por correr na praia, como prática de lazer e apenas ao fim de semana. Depois, com afazeres profissionais fora do país durante largos períodos, desliguei-me da corrida e comprei a minha primeira bicicleta, ainda que com ideias meramente de atividade desportiva e manutenção física, e sem qualquer intuito competitivo. O interesse foi despertado e passados 4 meses comprei uma bicicleta de montanha, dado que decidi fazer os Caminhos de Santiago. Um ano após, e face a um entusiasmo crescente, comprei uma bicicleta de estrada para fazer Barcelos/Fátima.


Durante os primeiros anos, entre 2009 e 2013, os treinos eram somente com o objetivo primordial de, no mês de Maio, fazer os Caminhos de Santiago e no mês de Setembro fazer Barcelos/Fátima. No entanto, por impulso dos grupos e amigos com quem treinava, participei em algumas provas, sendo que consegui sempre classificações com pódio, algo que me impeliu para fazer o primeiro Granfondo em 2013.

Em 2014 comecei a participar em provas de BTT e Estrada com regularidade, tendo feito 12 provas e alcançado 12 lugares no pódio mais alto, geral feminina. Nesse mesmo ano, voltei a calçar as sapatilhas depois do fatídico desaparecimento do João Marinho. Foi por ele que fiz o meu primeiro trail, a 23 de Novembro, tendo conquistado o 1º lugar - essa prova vai marcar-me para sempre…


Posteriormente, entre 2015 e 2017, participei em provas de ciclismo e atletismo, nas diferentes versões e sempre com resultados meritórios nas 4 modalidades, o que fez com que fosse convidada para integrar algumas equipas – comecei a praticar desporto um pouco tarde e isso fez com que esteja liberta de algum comprometimento, obrigações e até ambições menos razoáveis. Decidi encarar o desporto como uma atividade que me completa e me dá uma sensação de bem-estar e de liberdade e daí declinar esses simpáticos convites.


foto: D.R.


CSNENessas tuas aventuras desportivas, o que te deixa mais feliz em realizar?  


Fátima Melo: Atualmente, no que respeita a provas, cortar a meta sem quedas deixa-me muito feliz e é sempre esse o meu foco e prioridade (terminar em segurança ainda que sempre dentro dos meus limites máximos). Vencer é um acréscimo que me ajuda a passar melhor a semana seguinte, com vontade para treinar e sempre a pensar na próxima aventura ou prova com mais entusiasmo. 

Mas, na realidade, o que me deixa mais feliz são mesmo as atividades desportivas em grupo, com um misto de treino e companheirismo, quer seja de bike ou sapatilhas - Isso é a parte mais relevante em quantidade de tempo e só isso nos poderá fazer continuar.



CSNE: É teu o recorde da Gerês Extreme Marathon. O que sente uma atleta como tu, quando em 2017 no Gerês, conseguiste bater o teu próprio recorde numa prova tão desafiadora como a Gerês Extreme Marathon?   


Fátima Melo2017 foi um excelente ano para uma atleta como eu!

No dia da Gerês Extreme Marathon, sentia-me bem e por isso tinha tudo para conseguir bater o meu próprio recorde – gosto essencialmente de competir com os meus limites e tentar sempre ultrapassar-me! 

Quando estava na linha de partida, prometi a mim mesma que nunca olharia para o relógio. Iria simplesmente dar o meu melhor. Soube que ia bater o recorde uns 200/300 metros antes de cortar a linha da meta e isso foi mágico… o que sentimos é difícil de exprimir. Não somente a vitória, mas sim um todo envolvimento do público presente, organização e staff. Ser protagonista de uma prova tão emblemática fez-me sentir orgulhosa de mim. Nesta prova e em similares competições de estrada e trail sinto um calor humano bem acima do que se verifica no ciclismo.  





CSNE: A Gerês Extreme Marathon parece uma prova assustadora para o comum dos atletas, mas ano após ano são cada vez mais atletas a participar, e a dizer que a prova é mais bela que dura. Partilhas da mesma opinião? E que conselhos tens para quem vai participar nessa prova em 2019?


Fátima MeloNem tudo o que parece é! Esta prova é um misto do trail com o atletismo. Ambas as modalidades ajudam a superar a dureza desta prova. Uma coisa é competir, e isso serão 30% dos atletas, outra coisa é participar e desfrutar da prova que são os restantes 70% dos participantes.

Após a experiência deste ano de 2018 no Gerês Extreme Marathon, (ano complicado para mim) posso dizer que qualquer atleta amador que treine com regularidade pode fazer a Gerês Extreme Marathon. 

O conselho que dou é: Não tentem acompanhar alguém que tenha um ritmo mais elevado. Sigam sempre as vossas capacidades controlando os V/ tempos, parem nos abastecimentos e comam somente o necessário. Desfrutem da paisagem, conversem com os participantes e quando menos esperarem, estão na linha da meta sem grande esforço. Tudo isto aliado a uma pratica física variada e suficiente que nos ajudará no dia a dia e nos fará gozar estes belos momentos!



CSNE: Num mundo desportivo marcadamente masculino (felizmente com a participação feminina a crescer substancialmente) sentes ainda mais a pressão para ser bem sucedida e conseguires resultados de pódio? Neste contexto, que conselhos dás às mulheres praticantes?


Fátima MeloInfelizmente, o desporto ainda é muito masculino, principalmente no ciclismo. 

Na corrida, já vemos uma grande participação de mulheres e isso deixa-me feliz e com mais vontade de lutar por um bom resultado. Dada a competividade implícita. Fico radiante quando consigo ficar num top 10 na classificação geral! 

O atletismo é um desporto não muito dispendioso em termos de material, não é tão exigente no número de horas de treino e, nesse aspeto, é bom para que as mulheres possam participar e se dedicarem à modalidade consoante a intensidade que pretenderem. 

Às mulheres: 

Eu sei que não é fácil trabalhar, cuidar da casa, dos filhos e treinar, mas, se trocarem algumas pausas de descanso pelo treino vão ver que conseguem. Um treino bem feito e planeado não nos ocupa muito tempo e não nos deixa cansadas, mas sim relaxadas e melhor preparadas!

 


CSNE: Fátima, 2018 foi um ano atípico, com uma fratura que te fez parar por algum tempo. Felizmente a tua recuperação está a correr muito bem e já voltaste ao terreno. Mais uma vez demonstraste que a tua força é enorme. Quais os teus próximos desafios? A corrida vai continuar a fazer parte dos teus sonhos?


Fátima MeloFoi um acidente que implicou 3 fraturas completas nos membros inferiores (que sustentam o peso do corpo, a locomoção e o equilíbrio...). 

Apesar de me dizerem que 2018 era um ano para esquecer no que respeitava a provas, eu achava que, com algum esforço, poderia fazer uma prova de cada modalidade (ciclismo, Btt, Trail, Atetismo) e que o Extreme Marathon seria uma delas. 

A força vem muitas vezes por necessidade. Depender dos outros era algo que me assustava e foi o que mais me custou. Mas, saber que aquela situação era provisória também ajudou muito.

PENSO MUITAS VEZES, E SE FOSSE PARA SEMPRE? COMO SERIA? SERIA ASSIM TÃO FORTE COMO VOCÊS O DIZEM?

Neste momento o corpo ainda está a dar sinais. A humidade e o frio não ajudam muito, mas com o tempo e o treino, vou-me adaptando ao desconforto e à dor. 

Neste momento sei que pedalar ou correr não são impedimentos, mas o esforço desejado nos treinos ou provas, ainda são um obstáculo. Contínuo com trabalho de ginásio, massagem e fisioterapia para me poder sentir melhor cada dia. 

Antes de terminar o corrente ano tive uma oferta para me juntar a uma equipa que admiro muito e com a qual me identifico, mas ainda não sei se seguirei esse caminho. Estou grata a todos os convites que me foram feitos até hoje.

Ainda não tracei objetivos para 2019, mas a corrida faz parte dos meus sonhos! 



foto: D.R.


CSNE: A paixão pela Natureza, o desafio da superação pessoal e a perseverança em ultrapassar os obstáculos são o teu mote. Nesta altura complicada essa postura perante a vida ajudou-te a manter o sorriso no rosto? Quais foram os teus incentivos?


Fátima Melo: Eu só tenho motivos para sorrir! 

A natureza não fugiu, estava lá fora à espera do meu regresso.

Apesar de tudo, eu sou uma sortuda. Família e amigos foram incansáveis durante este meu azarado percurso. Durante todo o tempo em que estive internada nunca me faltou nada. Sete semanas após o acidente, quando pude passar para uma cadeira de rodas, foi como se me tivessem oferecido uma S-WORKS. Nunca me senti tão FELIZ!

A superação, a perseverança em ultrapassar obstáculos, não são importantes somente quando estamos bem, mas especialmente quando estamos mal. A vida tem muitas opções e nós só temos que escolher o melhor caminho.

O maior incentivo era o não querer depender dos outros, era igualmente a necessidade de precisar de trabalhar para comer e pagar as contas no final do mês. 

Três dias depois de sair da unidade, estava a conduzir. Oito dias depois, estava a trabalhar, deixando as muletas no carro.



CSNE: O Carlos Sá lançou este ano de 2018, um calendário de provas muito variado. O que achas deste circuito?


Fátima Melo: O Carlos não deixa de nos surpreender. Os locais escolhidos para as provas são de alguém ligado à corrida mas que ama e vive com a natureza. Muitas das provas, na minha maneira de ver, não são com o mero intuito de competição, mas também de lazer. Locais onde os atletas possam conhecer diferentes zonas do nosso país e tenham a possibilidade de estar em permanente contacto com a natureza. As provas são duras, mas a beleza das paisagens ameniza-as e torna-as em momentos de gozo e prazer. 


CSNE: Já tens calendário fechado para 2019? As provas da Carlos Sá Nature Events fazem parte dos teus grandes objetivos? Se sim quais e porquê?


Fátima Melo: Não tenho calendário para 2019 porque ainda estou a tentar readquirir o ritmo e a adaptar-me à nova realidade da pós-lesão.

Não sou apologista de fazer muitas provas durante o ano. Gosto de fazer provas de longas distâncias e duras. Por isso, temos que ter muita cautela pois talvez tenha que reformular as minhas ideias. Afinal, não sou profissional e o descanso é fundamental.

Fazer a PENEDA-GERÊS TRAIL ADVENTURE seria um sonho. São 8 dias em Abril e isso para mim é quase impossível. Se fosse em Maio, na primeira semana, seria mais fácil devido aos feriados.

O GRANDE TRAIL DA SERRA D´ARGA, é algo que está na minha mente e plano. Serra D´Arga é sempre um dos grandes momentos do calendário de Trail. 



CSNE: Temos hoje em Portugal, grandes atletas e muitas e boas provas. Foste vencedora da Open Race do Mundial de Trail 2016 no Gerês.

 O que te desafia mais: provas de ciclismo ou de Trail Running? Gostavas de fazer parte da seleção Nacional num futuro Campeonato do Mundo?

Fátima Melo: É verdade, temos grandes atletas e também grandes provas no circuito amador e profissional. Infelizmente não há muitos apoios o que leva muitos atletas a desistir do desporto competitivo a um nível mais alto.

Vencer o Open Race do mundial de Trail 2016 foi inesquecível. Foi o pódio mais bonito que tive até hoje. Estar presente numa prova do Mundial é algo que não se esquece - Um ambiente fantástico e arrepiante. 

Mundial de Trail 2019 regressa a Portugal a 8 de Junho em Miranda do Corvo e foi com entusiasmo que li a noticia. 

Não me vejo sem a bike nem sem as sapatilhas. Ambas as modalidades fazem parte do meu bem-estar e uma completa a outra.

Fazer parte de uma seleção para um Campeonato Mundial? Esse assunto já veio “á baila” várias vezes, mas, infelizmente, o trabalho não me permite tirar férias quando pretendo. Impossível conciliar a atividade profissional com estágios e dias de prova! 




***


Fátima MeloResta-me agradecer a lembrança pela entrevista e o carinho com que sempre fui tratada pela V/ organização durante estes 4 anos.  Com certeza que farei tudo por continuar a merecer a V/ atenção!


Fátima, em nome da equipa Carlos Sá Nature Events, desejamos-te um excelente 2019. Que mantenhas sempre essa força e sorriso em todos os desafios a que te propões.

 

Obrigado.

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