Participar numa UltraMaratona não é apenas correr. É desafiar os próprios limites, abraçar a natureza e, acima de tudo, realizar objetivos... e sonhos. Hoje, dia 13 de Janeiro, dia da Realização dos Sonhos, queremos partilhar contigo a história de alguém que faz parte da nossa comunidade, o Rúben Araújo.
O Rúben participou no Extreme 90K, um dos maiores desafios do nosso calendário. Ele mostrou-nos que, com dedicação, é possível alcançar metas que parecem quase impossíveis.
Correr esta prova fazia parte de um sonho pessoal?
“Antes de mais, obrigado pela oportunidade de partilhar convosco a minha experiência no Extreme 90k. É com muito gosto que o faço.
Esta prova fazia, sim, parte de um sonho pessoal. Não como finalidade, mas como um meio para alcançar o sonho. O sonho de me conhecer em plenitude, para lá do que seria possível conhecer estando na zona de conforto, a enfrentar desafios que sabia conseguir ultrapassar, com maior ou menor dificuldade. É isto que a ultra distância nos traz: a surpresa, a incógnita, a visita ao desconhecido e à auto-descoberta. É fantástico termos a coragem de nos posicionarmos na linha de partida, mas nunca sabemos como ou se vamos chegar à linha da meta. Mas agora sei que vivemos o sonho lá pelo meio.”
O que te inspirou a torná-lo realidade?
“Estar a falar sobre uma experiência na ultra distância poderá criar a ilusão de um atleta muito experimentado, mas não corresponde de todo à verdade. Durante 11 anos sujei os pulmões com tabaco, não eram raras as vezes que bebia álcool sem controlo, refugiava-me por trás de um sentimento de pena própria e culpava o mundo por todo o mal que me acontecera durante a infância. Hoje já conto 3 anos sem fumar e procuro uma lição positiva em qualquer adversidade que possa surgir. Comecei a correr com frequência há dois anos, pelo meio fiz um IronMan 70.3 e um curso de formação de oficiais do exército. Estas experiências foram motivadas por um livro chamado Não Me Podem Magoar, do Navy Seal David Goggins. A certa altura do livro fui apresentado ao mundo do ultra running, nomeadamente à sua participação na lendária Badwater. Mais tarde descobri que um português já a havia vencido… assim ouvi pela primeira vez o nome do Carlos Sá. Depois mergulhei nos documentários e excertos de peças jornalísticas disponíveis no YouTube sobre as aventuras do Carlos na Marathon Des Sables, Ultra Trail du Mont Blanc, etc e foi nesse contexto que me inscrevi no Extreme 90k. Esses dois homens inspiraram-me a procurar o sonho, sem dúvida.”
De que forma participar no Extreme_90k te aproximou da melhor versão de ti mesmo?
“O Extreme 90k realçou várias verdades que por um motivo ou outro, nos vamos esquecendo. Desde logo a obrigatoriedade de um carro de apoio. Para alguns talvez até nem fosse necessário para que conseguissem chegar à Vila do Gerês, mas permitir que nos estiquem a mão, permitirmo-nos ser ajudados, é a meu ver também um ato de coragem. Admitir a debilidade e catapultá-la para uma oportunidade. Coisas bonitas tornam-se possíveis com a cooperação de quem nos quer bem. Foi um bom lembrete e tive comigo gente incansável. Deixem-me que aproveite para deixar de algum modo registado o agradecimento ao João Vigário, ao André Peixoto, à Diana Vendeiro, que compuseram o carro de apoio, juntamente com a Catarina Coelho e o André Amaral que captaram tudo em vídeo para memória futura. E já agora, praticamente toda a prova foi corrida lado a lado com o 1Sarg Nuno Leandro, que havia sido meu instrutor no Curso de Formação de Oficiais. A prova foi poética também nesse sentido: o homem que há uns meses me mandava “encher de braços até ao infinito” corria agora comigo 90 kms na prova de estrada mais extrema do país.
Foi também a lição inequívoca de que somos capazes de fazer bem mais do que imaginamos. A prova tinha mais do dobro da distância máxima que já tinha corrido até então, mas quando existe o mindset certo é praticamente tudo possível.”
Qual o maior sonho que ainda tens por realizar no mundo das maratonas/Ultramaratonas?
“O meu maior sonho na ultra distância é sem dúvida correr a Badwater, tal como o fizeram o David Goggins e o Carlos Sá um dia. Seria o encontro entre a engrenagem do sonho e a confirmação do mesmo. Para além disso, tenho também a vontade de um dia percorrer a mítica Estrada Nacional 2 a correr. Tudo a seu momento, sem grande pressa, mas sem perder tempo, ambos serão realizados.”
Que aprendizagens obtiveste desta experiência? Voltavas a repetir?
“Um colega psicólogo e amigo dizia-me frequentemente que somos do tamanho da nossa vontade e é exatamente isso que retiro desta experiência. Existindo vontade, e refiro-me aquela chama quase visceral que nos incendeia a alma de verdade, e não a um pequeno desejo momentâneo, dobram-se logo as probabilidades de dar certo, porque procuramos obstinadamente meios de colmatar debilidades e soluções para os problemas, entregamo-nos ao desafio e adaptamo-nos. Com vontade faz-se o possível. Quanto ao impossível, só leva mais tempo a ser feito. É tudo sobre o que temos cá em cima 👉🧠 e é isso que levo do Extreme 90k.
Um grande abraço a todos,
Rúben Araújo - dorsal 111 ”